Uma nota de cinqüenta ao sol condensado entre os sobrados
em cima da minha mesa com a luz tentando mudar suas cores
de madeira unida comprensado de marrom com o alaranjado
da nota e o branco ofuscante indeciso de onde incidir além
do globo solar e ocular de quem vê uma nota sobre uma mesa
falsa por ser antes um tampão de móvel abaixo do monitor
mais caro e preso por fios tamborilo a tábua coberta de papel
com no máximo dois dedos que caibam na coincidência
do começo de uma tarde de sábado ensolarada e vagabunda.
No quintal lá fora e abaixo da minha janela, uma folha caiu de uma planta verde sem achar terra ou vassoura por muito tempo. Os azulejos têm cor de telha e esta folha vive um camaleão definitório: quase invisível sobre um azulejo, sua forma ainda a une à planta um pouco acima.
domingo, 6 de julho de 2008
domingo, 29 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
domingo, 22 de junho de 2008
GRUBER, Mario. Abstrato (década de 80)
É descontínuo o amor do galo pelo sol,
mas as cores com as quais o pinto
não o deixam esquecer o ovo
e o comovem no fim da tarde
vermelho, preto, crista...
Recordações de um amarelo plúmeo
e uma noite toda para entender a morte.
domingo, 15 de junho de 2008
O querer vomitou a frustração
mas a pele do desejo é transparente
e não consta que tenha boca
ou outros sutis detalhes
Moldar seios e buceta
já é o primeiro estupro
e não se iluda que todo pau
é apenas uma flechada
que um sádico até no nome
deixou pra exibir pros outros santos
Aquele vómito interrompido
tinge de roxo a face insólita
e exige de nós certos delírios
como um par de olhos em que a morte
faça ali mais dois buracos em que se meta
e pelos eriçados e um nariz inteiriço
além das orelhas tapáveis e um belo queixo
e tudo é uma faca e uma vala amadoras
e tudo é um graveto e um pote de rapé amados
até o osso do pinto e a luz do útero.