domingo, 6 de julho de 2008



Uma nota de cinqüenta ao sol condensado entre os sobrados
em cima da minha mesa com a luz tentando mudar suas cores
de madeira unida comprensado de marrom com o alaranjado
da nota e o branco ofuscante indeciso de onde incidir além
do globo solar e ocular de quem vê uma nota sobre uma mesa
falsa por ser antes um tampão de móvel abaixo do monitor
mais caro e preso por fios tamborilo a tábua coberta de papel
com no máximo dois dedos que caibam na coincidência
do começo de uma tarde de sábado ensolarada e vagabunda.

No quintal lá fora e abaixo da minha janela, uma folha caiu de uma planta verde sem achar terra ou vassoura por muito tempo. Os azulejos têm cor de telha e esta folha vive um camaleão definitório: quase invisível sobre um azulejo, sua forma ainda a une à planta um pouco acima.

domingo, 29 de junho de 2008

O dia é do Sol e a noite,
é como se eu pudesse prever os momentos
em que a Lua não devesse aparecer
e a visse brilhar mesmo assim
Quero potencializar cada alumbramento,
ler Bandeira estraga meus poemas,
escassar meus versos e sorrir mais vezes.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Fiapos de leite,
tão amarelos quanto sólidos,
escorrem pela escada de marfim
fecundando só as alvuras finitas.

domingo, 22 de junho de 2008


GRUBER, Mario. Abstrato (década de 80)


É descontínuo o amor do galo pelo sol,
mas as cores com as quais o pinto
não o deixam esquecer o ovo
e o comovem no fim da tarde
vermelho, preto, crista...

Recordações de um amarelo plúmeo
e uma noite toda para entender a morte.

domingo, 15 de junho de 2008

O querer vomitou a frustração
mas a pele do desejo é transparente
e não consta que tenha boca
ou outros sutis detalhes
Moldar seios e buceta
já é o primeiro estupro
e não se iluda que todo pau
é apenas uma flechada
que um sádico até no nome
deixou pra exibir pros outros santos
Aquele vómito interrompido
tinge de roxo a face insólita
e exige de nós certos delírios
como um par de olhos em que a morte
faça ali mais dois buracos em que se meta
e pelos eriçados e um nariz inteiriço
além das orelhas tapáveis e um belo queixo
e tudo é uma faca e uma vala amadoras
e tudo é um graveto e um pote de rapé amados
até o osso do pinto e a luz do útero.

sábado, 14 de junho de 2008

ficar tão magro que minhas mãos virem soco-inglês
e então acariciar meus seios de costela...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Eu sei chegar lá: Me ensina desde aqui,
Juro me desaprender com carinho
e dedicar qualquer amor a detalhes do caminho.

terça-feira, 10 de junho de 2008

via Lúcio Cardoso

E definições de pedra manando
de opalas pomes.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Eu luto pela instalação de neóns aleatórios nos caminhos do metrô
e não tento mais entender as casas pintadas de preto da minha infância,
só queria ver mais uma.

domingo, 1 de junho de 2008

A Incrível Arte de Ler Errado

Fica este post preu armazenar semipublicamentente esta vasta obra que se esconde em leituras com sono, em leitores hiperativos, em bad listening e outras maravilhas do tipo.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Montanha Intransponível

O vagão que no escuro o vidro alinha a este
é mais sólido perto da janela e longe de mim
Meu dedo desmente a planície una dos beirais
com uma carícia a tirar pó do invisível:
Aquela mulher sabe que a espio pelo reflexo.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Tudo é uma mesa de centro com tampo de vidro.
Tropeçamos em seus pés, piscamos suas quinas.

sábado, 24 de maio de 2008

Ela era como esses papéis grossos que se pensa estar dobrado.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

acrescentar cheiro de groselha àquela ponte,
musicar teu olhar quando cheguei ontem,
mas não agora com uma garrafa
ou numa canção, mas ali
na outra existência que é a experiência.

O mundo é consútil
e as impressões, mundas.

domingo, 18 de maio de 2008

inocência

foi tão singelo,
mal consigo explicar,
como estou sendo bobo,
desculpa, bobeira minha,
mas é que foi tão singelo
e não há nada menos singelo
do que "singeleza".


BARAVELLI, Herma em Glória (1988)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

ELVIS
QUERO MOLHAR
SEU PAU NO CHANDELE
ENFIAR NA MINHA
BUCETA E
CHUPAR ATE
VOCÊ GOZAR
E SE VOCÊ SOBRE
VIVER À ISSO
fODE MEU CÚ
ATÉ EU MORRER
DE TESÃO
PRISCILA

terça-feira, 6 de maio de 2008

Chupou o dedão até os 10;
aos 12, já tinha língua de prata
e medo de agulha,
um dedo todo só de carne.

domingo, 4 de maio de 2008

Eu era tão macho
que minha macheza se acovardou
de me acompanhar
Cada uma se descolou
dolorosamente
num baque surdo
sem ser da minha terra
mais do que um torrão;
sem acreditar em cerne quente,
magma de loucura,
aprendiz da lição úmida dos troncos caídos;
mas os rios são todos alheios,
alumbramentos,
pois do sol só conheço a poça.
A mortalha é verde
e eu sou a voz
que impede as flores de voarem
e que chama os frutos eternos de luz à vida.


03/05/08 - 16h56 - LRP

terça-feira, 29 de abril de 2008

Quando os olhos parecem a boca,
não sei se a pessoa é muda ou cega:
está morta.

domingo, 27 de abril de 2008

O dia já vem tarde.
O nascer já é seu sangue espalhado
morto não canta, choro alheio
O meio-dia é tempo de vingança
pela morte, pelo fim, pela inércia...
amarelado
e o azul escuro empalidece a noite
e o azul pálido já nos mata
e é o fim, é o fim e é o fim
a madrugada já ser
um atraso luto pelo dia que vem...

25/04/08 - 13h46

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Na verdade não existe queda:
Cada pedacinho de ar revela
uma profundidade de porta
à qual você se agarra,
Indecisa dor de dedos presos
entre porta fechada e seu batente
a se espalhar por bunda, cotovelos...
A cabeça nunca abandonou o chão:
A dor é que é inevitável.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tira a testa dos ossos
que costelas não se debatem de agonia
Tira a testa de todos os ossos
Respira e acaricia os seios duros, sem sexo
As duas últimas costelas
e todos os outros ossos
até lhe restarem só idéias soltas.

LRP - 16/04/08 - 17h53

terça-feira, 15 de abril de 2008

Fragmento de um poema de Cristóvão Valente. In: Araújo (1618).

Miapé ybakygûara,
Apya-bebé remi'u,
xe 'anga rekópuku. (...)
Xe rekoteben rupîara,
esepîak xe mara'ara,
t'eresaûsubar xe 'anga.

Tradução a partir de Navarro (1998)

Celestial pão,
dos anjos, comida;
de minh'alma, longa vida. (...)
Inimigo de minha aflição,
de minha doença tem visão,
compadece-te de minh'alma.

sábado, 12 de abril de 2008



Um belo dia,
me vesti inteiro de azul escuro:
faço o lusco-fusco da minha própria manhã...
Ando sem-rumo no fim da tarde:
A beleza da vida é tão objetiva
que a minha só pode ser o crepúsculo de tudo.

01/04/2008 - 18h52 - LRP

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A realidade tão estranha que de cinco dados só consigo supor os seis lados do sexto; as faces pra cima, todas inimagináveis.

sábado, 5 de abril de 2008

"Sigo em busca de um ouro em que tudo se oculta", Jorge de Lima.


Se o olho do cão fosse de ouro
e se não fosse a vida curta das pilhas de lanterna
(e se eu não tivesse que trabalhar até para comprá-las)
Eu passaria todas as noites inteiras a procurar
cães que não fossem meus
para ver o ouro além do ouro
que é o brilho dourado no escuro de repente
Adivinharia a natureza de seus olhos durante sestas
e voltaria a noite a vasculhar o breu
à luz ultrapassada das lanternas à pilha
ouro ocular em olhos áureos de cães pardos.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Te quiero tanto, amor.

sábado, 22 de março de 2008

leprosos

no saben narrar.
nombre irónico.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Que todos os desejos sejam explicados só pelos mistérios
motivados
lamber uma buceta
dedar um cu
chupar um pau mole
tudo deveria ser mais parecido com língua e orelha
ou wild gouinage
e o resto, Eugénio de Andrade e Júlio Ribeiro.

quinta-feira, 20 de março de 2008

As idéias surgem como fios de cabelo
morte quase indolor
ou você as vai condensando
testa franzida
sobrancelhas arqueadas
até chegarem aos olhos
e você ver o mundo através de suas densas tramas.

19/03/08 - LRP

segunda-feira, 17 de março de 2008

Eis as duas primeiras imagens que teriam aparecido no Google se você tivesse procurado por "consolo" ontem, 16/03/08, um domingo.








quinta-feira, 13 de março de 2008

a palavra calçada

São necessárias duas pombas para
me mostrar que o chão do Conjunto Nacional é rua
lavada.

O resto não faz sentido
surgem memórias
que exigem céu
do teto escuro
Duas pombas planando
em queda livre reta
surgem suposições
Pombas que se alimentam de moeda
e imagens
O brilho prateado no bico
e surgem ausências
de mergulhos, água e moedas
falta luz no teto e necessidade disso
falta explicar o que digo rua
e sobretudo,

calçada.

terça-feira, 11 de março de 2008

pai e filho são duas pessoas.
O carro, de um deles, precisa de dois
limpadores de vidro
quatro lugares
seis no natal,
sempre um só motorista.

pai e filho são duas pessoas.
Cada um carregando um limpador
novinho:
guarda-chuva grande preto
& espingarda improvisada.

Sampa, 10/03/08 - LRP

sexta-feira, 7 de março de 2008

Teorias e poesia

da pessoa do texto eu quero só o pescoço
discordo, discordo e discordo
do corpo da pessoa quero só os versos possíveis.

terça-feira, 4 de março de 2008

A janela tem cantos que nem os cacos revelam
Se a sereia gritar por socorro
nem por isso deixa de matar o marinheiro
Santo Deus e outras flexões já mortas:
ai, meu deus, ai de mim, diz Medéia
Que só os mortos se repitam, e sozinhos...
ondas descontínuas, Marília.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

no orelhão e do vidro da janela

"Hoje eu não quero trepar...
Quero fazer amor com você, caralho!"

.

- Assim não há eclipse lunar que se baste.



Sampa - 21/02/08

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Voltei

Voltei a te amar, mesmo que de susto. Voltei a beber água da torneira depois do banho, mesmo consciente de que eu tinha até esquecido desse hábito. Nunca te odiei, nunca planejei suicídios ou assassinatos: fiz da minha personalidade minha única arma contra fatos, nenhum revólver à cabeça de ninguém, adagas pra dentro!, mas agora estes joguinhos, estes quereres que não me sangram, que saem neste sorriso que não me rasga, amarelo.

Frente a impossibilidade de te amar, me tornei um amigo melhor, um leitor melhor, um filho melhor, mas me tornei uma pessoa pior em algum sentido que me foge ainda que não me falte a sua presença ou a dele.

2º semestre de 2007 - LRP

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

lendo Tiago Torres da Silva errado

desampassarinho.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Não há como excluir a morte entre seus amores, amor,
só eu aqui morto tenho a amargura de te dizer isso
aí no reino do tudo por fazer e do nada
se chama amor, mas está na paixão e nas palavras,
amor mesmo, amor, como vê em tudo que falo, é impossível.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008



OSTROWER, Fayga. 8010 (Ano: 1980).



foto que tirei janeiro agora, 2008,
sem lembrar dos quadros.




OSTROWER, Fayga. Terra,
dia e mês desconhecidos 1993.


gosto estético é algo que me assusta. Assustadoramente estruturado, repetitivo e ceifador, que transpassa qqr nível que inventem pro cérebro...

medo...

ps.: JURO que paro um pouco de postar fotos, com fotos, sobre fotos etc!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008


como que vou andar de bicicleta invertida
com a minha vó a trancar o portão?

terça-feira, 22 de janeiro de 2008



clique na foto pra ver grandão.

domingo, 20 de janeiro de 2008



Vai, Toninho, dá aquele olhar 43 que só você sabe dar!

Versão ao vivo de "Beijo Partido", infelizmente não precedida de "Terra dos pásssaros".

domingo, 13 de janeiro de 2008


"A Grávida" de Rafael Perez.
Título do quadro e foto por Leandro R.P.

sábado, 12 de janeiro de 2008


Bruce LaBruce

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Gosto de fazer braços eloqüentes:
Não o exagero ocêanico pianista
que mesmo as bailarinas têm, tufões
Quero-os capazes de fazer
fist-fucking sem dar nas unhas
da mão desde o ombro sem qualquer punho sádico
Braços com dedos que os contem eloqüentemente
Braços, braços quero ter como gêmeos
como os teve minha avó; eloqüente, eloqüente
Gosto de fazer braços inteiros:
Braços, braços, que não há cotovelo que baste
ante a minha solidão eloqüente, eloqüente.
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quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Não há nada a dizer:
didascália em sinalefa.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Os rabos-de-gato estão gordos
Ninguém podou as marias-sem-vergonha
Cravos robustos como rosas
Ameixeiras renascendo em folhas verdes
na cortada para os fios elétricos
gordos, mas não por causa dos latidos
São os miolos que estão eriçados
Ariscos olhos de lagartixas
revelando a primazia de seus rabos
Trevos de três folhas tão grandes
que dariam oito folhas de sorte
Caso fosse possível da helicônia
separar a tesoura da cornucópia
sem perder o acaso e a ventura
É com o olhar que eu flerto
Este amigo íntimo do caos.

Meduza

Meduza
, Dimitrije Popović.